《O Mergulhador》歌词

[00:03:32] Como, dentro do mar, libérrimos, os polvos

[00:03:32] No líquido luar tateiam a coisa a vir

[00:03:32] Assim, dentro do ar, meus lentos dedos loucos

[00:03:32] Passeiam no teu corpo a te buscar-te a ti.

[00:03:32] És a princípio doce plasma submarino

[00:03:32] Flutuando ao sabor de súbitas correntes

[00:03:32] Frias e quentes, substância estranha e íntima

[00:03:32] De teor irreal e tato transparente.

[00:03:32] Depois teu seio é a infância, duna mansa

[00:03:32] Cheia de alísios, marco espectral do istmo

[00:03:32] Onde, a nudez vestida só de lua branca

[00:03:32] Eu ia mergulhar minha face já triste.

[00:03:32] Nele soterro a mão como a cravei criança

[00:03:32] Noutro seio de que me lembro, também pleno...

[00:03:32] Mas não sei... o ímpeto deste é doído e espanta

[00:03:32] O outro me dava vida, este me mete medo.

[00:03:32] Toco uma a uma as doces glândulas em feixes

[00:03:32] Com a sensação que tinha ao mergulhar os dedos

[00:03:32] Na massa cintilante e convulsa de peixes

[00:03:32] Retiradas ao mar nas grandes redes pensas.

[00:03:32] E ponho-me a cismar mulher, como te expandes!

[00:03:32] Que imensa és tu! maior que o mar, maior que a infância!

[00:03:32] De coordenadas tais e horizontes tão grandes

[00:03:32] Que assim imersa em amor és uma Atlântida!

[00:03:32] Vem-me a vontade de matar em ti toda a poesia

[00:03:32] Tenho-te em garra; olhas-me apenas; e ouço

[00:03:32] No tato acelerar-se-me o sangue, na arritmia

[00:03:32] Que faz meu corpo vil querer teu corpo moço.

[00:03:32] E te amo, e te amo, e te amo, e te amo

[00:03:32] Como o bicho feroz ama, a morder, a fêmea

[00:03:32] Como o mar ao penhasco onde se atira insano

[00:03:32] E onde a bramir se aplaca e a que retorna sempre.

[00:03:32] Tenho-te e dou-me a ti válido e indissolúvel

[00:03:32] Buscando a cada vez, entre tudo o que enerva

[00:03:32] O imo do teu ser, o vórtice absoluto

[00:03:32] Onde possa colher a grande flor da treva.

[00:03:32] Amo-te os longos pés, ainda infantis e lentos

[00:03:32] Na tua criação; amo-te as hastes tenras

[00:03:32] Que sobem em suaves espirais adolescentes

[00:03:32] E infinitas, de toque exato e frêmito.

[00:03:32] Amo-te os braços juvenis que abraçam

[00:03:32] Confiantes meu criminoso desvario

[00:03:32] E as desveladas mãos, as mãos multiplicantes

[00:03:32] Que em cardume acompanham o meu nadar sombrio.

[00:03:32] Amo-te o colo pleno, onda de pluma e âmbar

[00:03:32] Onda lenta e sozinha onde se exaure o mar

[00:03:32] E onde é bom mergulhar até romper-me o sangue

[00:03:32] E me afogar de amor e chorar e chorar.

[00:03:32] Amo-te os grandes olhos sobre-humanos

[00:03:32] Nos quais, mergulhador, sondo a escura voragem

[00:03:32] Na ânsia de descobrir, nos mais fundos arcanos

[00:03:32] Sob o oceano, oceanos; e além, a minha imagem.

[00:03:32] Por isso isso e ainda mais que a poesia não ousa

[00:03:32] Quando depois de muito mar, de muito amor

[00:03:32] Emergido de ti, ah, que silêncio pousa

[00:03:32] Ah, que tristeza cai sobre o mergulhador!